
"Muitas pessoas sabem que os veículos elétricos já existem desde a invenção do automóvel, já tivemos idéias promissoras que não foram adiante como o GM EV1 dos anos 90 e inúmeros concept cars e modelos derivados dos carros de produção que não passaram da fase de testes na década seguinte. Contudo, entre os poucos elétricos que viraram realidade para o grande público podemos citar os minúsculos e raquíticos city cars europeus ou o caríssimo Tesla Roadster, de valor proibitivo para a maioria das pessoas.

Agora os japoneses pretendem democratizar o uso destes carros para todos, aproveitando a onda dos veículos ecológicos e econômicos que são o assunto do momento no mundo automotivo e apostando num segmento de grande potencial de crescimento – inaugurado no país pelo Mitsubishi iMIEV no ano passado. Agindo de forma diferente em relação à rival Toyota, que investe mais nos híbridos (considerado por muitos uma solução provisória para o problema da poluição nos carros) do que nos elétricos, a Nissan lançou em dezembro último o Leaf, primeiro automóvel elétrico da marca.

De porte semelhante ao Tiida, o Leaf lembra vagamente o novo modelo do hatchback lançado recentemente na China. Como a maioria dos carros que foram criados exclusivamente para serem ecológicos, de início seu desenho causa certo estranhamento (talvez pelo estilo diferenciado da traseira), mas logo se acostuma e no final das contas percebe-se que o elétrico da Nissan tem personalidade – a cor preta também ajuda bastante, pois muitos já estavam cansados de ver a sua tradicional cor azul.

Por dentro, a padronagem clara dos bancos e painel do Leaf parece tratar de forma mais aconchegante os passageiros, diferente da simplicidade do iMIEV com seus plásticos duros e da frieza do Prius com o seu interior mais escuro e painel de linhas retas. No Nissan a qualidade dos materiais é visivelmente superior, com texturas e materiais macios ao toque constratando com as partes lisas em black piano, dando uma aparência contemporânea e moderna ao mesmo tempo. O espaço interno também se equipara ao Tiida, mas seu porta-malas é bem mais profundo – a marca diz que ele comporta duas bolsas de tacos de golfe sem dificuldade.

Os instrumentos digitais são posicionados de forma semelhante a dos Honda Civic e Insight, na parte superior ficam o velocímetro, relógio, termômetro externo e um indicador de “direção ecológica e econômica” (quanto mais “verde” a condução, mais pinheirinhos são acumulados). No display inferior estão marcadores de temperatura e carga da bateria, computador de bordo e medidor do uso da força do motor – que faz o papel do conta-giros. Curiosamente, a alavanca do câmbio funciona da mesma forma que o Toyota Prius (seria um novo padrão para carros híbridos e elétricos?).

A central multimídia se destaca no painel, além ter as funções tradicionais de GPS (mostra o ponto de recarga mais próximo) e CD player ela também é quase que o cérebro do sistema, mostrando todas as informações relacionadas ao motor, baterias e climatização. Inclusive a central pode se comunicar com um smartphone via bluetooth, permitindo que se possa verificar o estado do sistema na tela do celular e acionar algumas funções à distância, como o ar condicionado. No modelo mais caro, um pequeno painel solar no spoiler de teto traseiro ajuda a carregar a tradicional bateria de 12V – usada para dar suporte aos acessórios do carro.

A Nissan afirma que o Leaf tem um desempenho surpreendente e um “handling” ousado, uma experiência totalmente diferente de dirigir um carro. Acredito que seja verdade, pois o elétrico tem recebido muitos elogios de várias publicações. Seu motor (no visual parece um motor a gasolina mesmo) pode não impressionar pela potência (109 cv), mas o alto e plano torque de 28.6 kgfm certamente contribui para que ele possa ser um carro agradável de dirigir. As suspensões são convencionais (McPherson e eixo de torção) porém segundo o fabricante, a boa distribuição de peso e o baixo centro de gravidade ocasionados pela posição das baterias resultam em um comportamento dinâmico superior a muitos carros de tração dianteira do mesmo porte. Infelizmente eu não pude dirigir o carro para poder comprovar esses atributos… Fica para uma futura avaliação!

No mercado japonês o Leaf custa a partir de ¥ 3.764.250 ou R$ 73.670,00 (X) até ¥ 4.060.350 ou R$ 79.460,00 (G), um valor um pouco salgado se considerarmos o tamanho do carro. Fora o custo para montar uma necessária estação residencial de energia 220V (Nesta voltagem as baterias são carregadas em oito horas, se for em 110V é preciso eternas 21 horas), aumentando em mais ¥ 104.000 (R$ 2.035,00) o investimento no carro. Mas o governo do Japão dá uma mãozinha e cede um incentivo de aproximadamente ¥ 800.000 (R$ 15.660,00), viabilizando a aquisição do veículo (já pensou isso na terra Brasilis?) e encostando o seu preço no valor do Prius mais equipado.

Além disso o Leaf é um carro praticamente completo, as duas versões vem com faróis com lâmpadas LED, central multimídia com GPS, chave presencial, rodas de liga leve 16”, 6 airbags, ABS, EBD, VDC, sistema de alerta sonoro para pedestres, entre outros. A diferença entre os dois acabamentos ficam apenas no piloto automático, câmera para manobras em marcha a ré, 6 alto-falantes (no X são 4), cobertura do porta-malas, aparelho para sistema ETC (o equivalente ao Sem Parar das rodovias paulistas) e o painel solar de energia no aerorólio traseiro. Seu único opcional é o kit de inverno, composto por aquecimento em todos os bancos, volante (que passa a ser revestido em couro) e retrovisores externos e saídas de ar quente para os passageiros de trás.

No mercado americano a autonomia do Leaf é de 160 km, porém devido as normas de aferição de consumo serem diferentes nos dois países a Nissan divulga que o modelo japonês pode rodar 200 km com uma carga completa. Segundo a empresa, já estão disponíveis aproximadamente 2.200 pontos de energia comum (220V) e 500 locais de recarga expressa (80% da bateria recarregados em 30 minutos) espalhados pelos revendedores da marca no país inteiro. A marca diz que até 2020 serão 2 milhões de pontos de abastecimento comum e 5000 do tipo expresso. E o serviço de recarga da bateria é gratuito nestas concessionárias.

Com o Leaf, a Nissan quer mostrar para o mundo que o carro elétrico já é uma realidade que qualquer pessoa pode adquirir sem as limitações do passado, como uso exclusivo para empresas ou um certo grupo de consumidores em potencial. Prova também que não é necessário um carro ser feio, apertado e muito caro para rodar com economia e de consciência limpa. Junto com a sua conterrânea Mitsubishi ela entra num segmento que ainda está engatinhando, mas que poderá ser a salvação de uma indústria que há 20 anos atrás era o supra-sumo da tecnologia e ousadia em matéria de automóveis e que hoje parece estar adormecida. Tomara que estas empresas estejam certas…

E no Brasil… Será que vamos escutar algum dia aquela frase que há 30 anos atrás foi usada para popularizar o Álcool nos automóveis brasileiros? No entanto, desta vez seria assim:
CARRO ELÉTRICO, UM DIA VOCÊ TERÁ UM!
Ficha técnica – Nissan Leaf (ZE0)
Dimensões e capacidades
comprimento x largura x altura: 4,44 x 1,77 x 1,54m (interno: 2,08 x 1,46 x 1,18m)
entre-eixos: 2,70m
altura máxima do solo: 160mm
peso: 1.520 kg
nº de passageiros: 5
consumo médio de energia: 124 Wh/km (norma JC08)
autonomia: 200 km (norma JC08)
Motor
elétrico tipo EM61 com baterias de ions de lítio de 360V e 24 kWh potência: 109 cv a 2730~9800 rpm
torque máx: 28.6 kgfm a 0~2730 rpm
relação final de transmissão: 7.9377/tração dianteira
Direção
tipo pinhão e cremalheira com assistência elétrica
diâmetro de curva: 5,2m
Suspensões
Mc Pherson (D)/eixo de torção (T)
Freios
discos ventilados (D e T)
Rodas e Pneus
liga leve 16×6.5J, 205/55R16 91V
Preços
¥ 3.764.250 ou R$73.670,00 (X)/¥ 4.060.350 ou R$ 79.460,00 (G)"
Em: http://www.noticiasautomotivas.com.br/d ... ssan-leaf/