t3lmo Escreveu: ↑15 jun 2019, 01:03
Se tal fosse mesmo possível qualquer utilizador mal intencionado (e com 10€ num equipamento de bolso) colocaria um posto offline de forma recorrente só para poder carregar à borla. Agora imaginem se um MB também pudesse entregar notas quando não houvesse rede.
Como? Neutralizava a antena do posto? Isso faz-se assim com equipamento dos chineses?
A questão não está nos 10€ mas sim no que lhe acontecia se fizesse isso. Os tipos que andaram a neutralizar os pórticos da Via do Infante no Algarve a tiro de caçadeira também não tiveram de gastar muito ou usar de alta tecnologia... porém, se tivessem sido apanhados... A dada altura tiveram mesmo de desistir.
Um tipo que neutralizasse as comunicações de um PCR para se pôr em seguida ali, no local do crime, a carregar durante meia hora era apanhado pela polícia num instantinho.
O MB é diferente por duas razões:
- Um MB que entregasse notas à borla, numa só hora de indisponibilidade perderia milhares de euros. Um PCR de 50kW perde 50kWh de electricidade, são 10€.
- As notas que saem do MB não resolvem nenhuma necessidade. Não se comem, não tapam do frio, não servem mesmo para nada.
Ou seja, as duas razões são: por um lado, o prejuízo não é assim tão grande, por outro, a necessidade que satisfaz é importante demais. Isso altera tudo. Isto não é uma questão tecnológica, é um problema de direito, de conflito de direitos. E o que vocês estão a dizer é que um dos direitos é absoluto, tem sempre mais peso que o outro.
Permitam-me dramatizar um bocado, exagerar (a comparação com o MB também é de um dramatismo exagerado). Alguém está numa zona remota, no baixo Alentejo, na margem esquerda do Guadiana, de noite, e uma pessoa tem um problema súbito de saúde, com risco de vida se não for assisto em poucas horas. Falham as comunicações, não consegue ligar para o INEM, ou então há comunicações, e consegue ligar, mas não é um AVC nem um enfarte e dizem "Tem carro? Então dirija-se ao hospital, a ambulância vai demorar mais tempo".
Chega ao PCR, a rede da Mobi.e está novamente em baixo. Não há comunicações, não há reboque. Ou há reboque, táxi, etc, mas demora demasiado tempo... E morre uma pessoa junto a um PCR a precisar de energia quando o PCR a pode fornecer?
O que o regulamento da rede Mobi.e diz é que a culpa é da pessoa, porque fez a viagem de carro eléctrico. As situações podiam ser muitas, um bebé de um mês, já podia fazer uma viagem de 1h30, mas precisava de carregar, e com a espera pelo reboque foram 4h, em vez de chegar às 11h da manhã, chega às 15h da tarde no Verão. Tantas, outras situações, um diabético, etc (se sofre de diabetes tipo I não deve usar carro eléctrico).
Ou então, imagine-se que em Bragança se atingiam temperaturas de -30 graus, e se morria de frio junto a um PCR com energia.
Ou simplesmente, deixar pessoas mesmo sem problemas de saúde, a ter de esperar por reboques, em dias de Verão... o simples incómodo que isso é, comparado com o enorme risco de um PCR perder 10€ por cada hora de indisponibilidade da rede (dinheiro que a entidade gestora naturalmente teria de compensar).
Espero que os argumentos dramáticos não tornem mais difícil persuadir-vos. A ideia é só dizer que há vários direitos que a lei deve proteger, não apenas um. Que há coisas mais importantes que o dinheiro, e aqui, neste caso, numa cidade, não, mas o incómodo de ficar no meio do Alentejo, ao calor, à espera do reboque, talvez.
Ao mesmo tempo, também não percebo como é que há uma situação destas, uma situação em que a lei consagra um monopólio, ao ponto de ser proibido eu fazer um posto de carregamento, mas depois não há obrigações.