Nonnus Escreveu:Transportando isso para o tema estamos a debater, as empresas de energia tem um produto que diz ser amigo do ambiente, mas na realidade é o mesmo dos outros.
Não é. Está tudo registado, cada compra, cada venda. No decorrer desta discussão, adquiri dados que me obrigam a levar isto a sério. O valor do mix do ano anterior
não é um embuste.
Nonnus Escreveu:...ainda não me convenceram que as empresas que só pensam nos lucros, passem a comprar energia mais cara, em vez de comprarem energia mais barata porque tem X clientes que contrataram energia verde.
Se houvesse um compromisso, parece-me que não teriam alternativa. Não vejo é que a quota de consumidores que exija esse compromisso seja maior que a quota efectiva de energias limpas. A realidade ultrapassa os consumidores "bonzinhos".
Mas, se um comercializador que tem dois "produtos" para consumidores que discriminam e não discriminam não precisa de alterar o seu comportamento para vender um desses por "verde", quando comparas mixes de comercializadores de grupos económicos diferentes, a conversa é diferente.
Para a EDP Comercial é
mais natural ter um componente hídrico elevado, porque no mesmo grupo existe uma EDP Produção com uma elevada capacidade instalada de produção hídrica. É uma compra-venda dentro do mesmo grupo económico. É um contrato bilateral intra-grupo (ver à frente). Sai mais barato do que adquirir a electricidade no mercado diário ou intradiário a preços que oscilam com a oferta e com a procura! (ver à frente).
Do mesmo modo, para a YLCE é
natural ter um componente eólico elevado, porque no grupo Enforce há uma elevada capacidade instalada de produção eólica. Contrato bilateral intra-grupo. É mais rentável vender esta electricidade directamente ao consumidor do que vendê-la a outros comercializadores de electricidade. Por isso, o grupo Enforce criou a YLCE.
Do mesmo modo, provavelmente, é mais natural para a
Endesa vender carvão.
Nonnus Escreveu:Para mim é puro markting, esta na moda ser ecológico, então vamos la criar um produto que diz ser amigo do ambiente, aplica-se aqui, como a industria automóvel, como a outra industria qualquer.
E depois há as pessoas que efectivamente se interessam por saber se aquilo que adquirem é efectivamente amigo do ambiente ou não e que
são capazes de alterar as suas decisões consoante a informação que obtém. Isso não é moda. É para aprofundarmos a nossa opinião sobre isso que estamos a discutir.
Nonnus Escreveu:Enquanto não tiveres uma linha dedicada de uma estação eólica, hídrica ou fotovoltaico até a tua casa (fazer isto era tão incomportável que nunca mais a empresa ia ter lucro contigo) não me consegues convencer que a energia que entra (que é como diz o fornecedor compra esses kw a empresas 100% verdes) na tua casa é de fontes é apenas de fontes renováveis.
Num nó da rede, de onde consomem milhares de consumidores é colocada electricidade pelos produtores para satisfazer contratos com os comercializadores para satisfazer os seus clientes. Esta é a realidade. É colocada uma capacidade planeada bem como reservas secundárias e terceárias que apenas vão ser produzidas se necessário (porém, a sua disponibilidade foi previamente contratada).
Ou seja, a linha dedicada é irrelevante. E aliás, o BrunoAlves disse que não eram os mesmos electrões, mas isso nem que fosse o mesmo comercializador! Existem transformadores pelo caminho... A electricidade é sempre uma coisa abstracta.
Procurando no Google por MIBEL encontrei dois documentos que mostram o nível de detalhe a que isto é transaccionado.
- Descrição do Funcionamento do MIBEL. Este mais autoritativo vem do site da ERSE. Interessa o capítulo 2 "Estrutura de Mercado", o 3 "Mercado Diário e Intradiário" para dar uma ideia, 4 "Mercado a Prazo"...
- A Interligação Elétrica Entre Portugal e Espanha é uma dissertação de mestrado, é uma coisa sucinta, mais fácil de ler e foi o que encontrei primeiro. Para a nossa discussão, é relevante o capítulo 2 e o 4. São meia dúzia de páginas que qualquer pessoa que queira saber se isto é ou não um embuste pode ler.
A realidade é que há pessoas a olhar para um PC a comprar electricidade para o dia seguinte. Esse é o
Mercado Diário. Fazem-no pondo ofertas de compra. Essas ofertas de compra indicam quantidade, preço, e "condições complexas". As ofertas de venda também. As ofertas são cruzadas em tempo real pelo Operador de Mercado, uma espécie de bolsa de valores. Estas ofertas são postas pelos
sujeitos do mercado.
Os comercializadores são sujeitos neste mercado e são habitualmente compradores, mas também pode agir como vendedores (talvez para vender algum excedente que tenham adquirido, adquiriram mais do que afinal vão precisar, o número de clientes diminuiu, etc). Os produtores são habitualmente vendedores, mas também podem comprar.
Claro que comprar no mercado diário pode sair caro (ou não). Naturalmente que uma parte substancial da electricidade (40% no global) é adquirida de antemão com base em previsões no
Mercado a Prazo. Existem leilões regulados e existem contratos bilaterais, dos quais os contratos intra-grupo são um exemplo (leia-se a secção 2.2 acerca da integração vertical, os velhos comercializadores que eram também produtores...).
Não vou escrever muito mais. Quem estiver interessado leia os documentos.
Para mim, neste momento, o peso e a coerência dos indícios que pendem para que a questão do mix energético não ser um embuste é já quase inabalável. E direi ainda com uma expressão alentejana, que me começa a parecer que
este MIBEL está uma coisa bem feita. E não esquecer que os produtores têm de adquirir licenças de emissão de CO2 e de outros poluentes. E que é inultrapassável, quer com um comercializador, quer com muitos, que toda a produção de electricidade tem de estar prevista de antemão.
Digo-vos,
estou muito satisfeito com a minha electricidade 51% eólica da YLCE (70 e tal % renovável). Acende as luzes todas lá em casa. E não é cara. Estou certo que não pago mais que um ou dois € de fatura mensal que vocês com a 51% carvão+gás+nuclear. Não tem a tarifa em vazio mais barata, mas tem um termo diário barato, e uma tarifa em cheio-ponta barata também. É chato para dizer aos utilizadores de carros diesel que "gasto 1,50€/100km" mas isso não é mais relevante que o todo da minha casa.